Novidade

Brevemente, além de leres poderás ouvir os meus poemas e prosas recitados por mim e com fundo musical.

sábado, 5 de dezembro de 2015

VISITA DE DOMINGO À TARDE (poema dedicado à, também minha, avó Mimi)

Aqueles olhos, já pequenos,
escondidos nas rugas de tanto olhar,
que hoje sabem melhor ver,
não conseguiram esconder
um ligeiro e terno brilhar,
quando numa tarde de domingo,
me viram chegar....
Cheguei num tempo, prometido,
que não queria adiar,
pelo receio escondido,
que o destino enfurecido,
já não me deixasse ali estar.
Mas finalmente ali estava,
momento de pura magia,
e a voz calma e cansada,
falava duma paixão passada,
tão plena de alegria.
Tantas histórias de um passado,
tanta coisa de um longo viver.
Eu escutava, entusiasmado,
apaixonado, deliciado,
com o tanto por dizer....
E a sua mão, tremendo,
agarrada à minha mão....
Segurava a minha alma,
chegava ao meu coração....
Eram momentos perfeitos,
de pura e terna emoção.
Eram palavras sem fim,
numa voz doce e macia,
que entravam dentro de mim
em jeito de nostalgia.
numa descoberta profunda,
de um ser maravilhoso,
uma enciclopédia de vida...
que eu ouvia em delírio,
e as queixas, as dores, o martírio,
a que a idade não perdoa,
onde o lúcido pensamento,
suporta tanto tormento,
mesmo que o corpo lhe doa.
A vontade da desistência,
na fugaz fraqueza da sorte,
A falta de paciência
para esperar pela morte.
Mas a voz, e o olhar,
falavam de outra maneira,
numa vontade de ficar,
para poder ensinar,
como se vive uma vida inteira.
Noventa anos de dias,
revividos numa só hora....
e o carinho que senti,
como que me prendia ali,
não me deixando ir embora.
Em promessas mútuas de vida,
no tempo que resta aos dois,
Um beijo, na despedida,
Um desejo, na partida,
que voltaria depois.
E saí de alma cheia,
pensamento em turbilhão...
como arrumar tanta ideia?
Como sentir tanta emoção?
O meu Deus como aprendi....
o real valor desta vida.....
o caminho que eu percorri,
comparado com o que ouvi,
É uma estrada perdida...
Dum não saber até quando,
se alguma vez chegarei....
a entender em plenitude,
aquele ser humano em virtude,
mulher tão querida que amei.
Agora só desejo voltar,
num domingo à tarde, ou não.
Porque me fica doendo no peito,
ao pensar, que de algum jeito,
só possa ficar recordação.




Sem comentários:

Enviar um comentário