Novidade

Brevemente, além de leres poderás ouvir os meus poemas e prosas recitados por mim e com fundo musical.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

A CAIXA DE LÁPIS DE CÔR

Numa caixa de cartão colorida,

Em manchas de aguarela.

Vinte e quatro lápis davam vida,

a uma bonita janela.


Viviam ali tão encostadinhos,

muito quietinhos sossegados.

Sempre bem arrumadinhos

e pelas cores ordenados.


Esperavam ansiosamente

para fora da caixa saltar.

Para quando alguém finalmente

precisasse deles pra pintar.


Por vezes enquanto esperavam

longas conversas mantinham.

Sobre as cores com que pintavam,

e as qualidades que tinham.


O verde, com certas manias,

disse sem qualquer subtileza:

-Sou a cor das pradarias,

e da flora, da natureza.


O amarelo já irritado,

não conseguiu aguentar.

-O que seria de ti verde coitado,

sem o meu sol a brilhar.


O castanho, num tom pomposo,

rapidamente respondeu:

- Eu sou a terra e um tronco grosso,

onde toda a vida nasceu.


Não és assim tão importante!

Disse o azul sem hesitar.

Eu vou muito mais distante,

pois sou o céu e o mar.


O vermelho disse com fervor:

-Dividam lá isso a meias.

Pois sou a cor do amor,

e do sangue que corre nas veias.


O laranja, mais pedagogo,

disse ao vermelho, encarnado.

Como serias tu cor do fogo,

sem laranja misturado.


O Rosa em jeito de vaidade,

educadamente disse assim:

Sou a cor da felicidade,

nas flores de um jardim.


Mas o branco, que até então,

Só tinha ouvido, calado.

- Eu sou a cor da razão,

sou o branco imaculado.


Logo o preto não gostou,

e disse no seu sábio dizer:

-Só graças ao contraste que dou,

alguém em ti pode ler.


O cinzento não se conteve,

deu uma gargalhada e depois:

- Que graça que cada um teve,

Eu sou a mistura do dois.


O roxo, que era baixinho,

disse um pouco envergonhado:

-Sei que sou pequenininho,

mas porque fui mais usado.


O verde claro, gaguejando,

disse sincopando os sons:

-Eu-eu-eu que-que-ria ver-ver-vos pin-pin-tando

sem-sem ha-haver os Mei-meios tons.


Depois de alguns dissabores

de conversas de rivais.

Perceberam então as cores

que diferentes, são iguais.


Como seria o mundo todo escuro,

Como seria o planeta todo claro.

Com cores se pinta o futuro,

num abraço de sonho e amparo.


Seja grande, seja pequeno,

Com diferenças, como a gaguez.

Só juntos num mundo sereno,

se pinta tudo aquilo que vês.


Porque nada importa o que temos

nem a diferença ou a cor.

Mas todos juntos valemos,

um mundo pintado de amor.



POEMA INCOMPLETO

Tentei escrever um poema

com mil frases infinitas

mas fiquei com um problema

não tinha palavras ------------


Eu bem teimava e tentava,

e tantos versos escrevia.

Mas sempre uma palavra faltava

para me encher de -----------


O poema estava tão triste,

dizendo que assim não se anima.

Porque um poema existe,

na palavra que faz a ---------


Não se sentia bela poesia,

nem poderia vir a ser canção

Pois tudo aquilo que dizia

não chegava ao -----------


Foi então que me lembrei

com crianças que ali estavam

que elas me ajudassem também

nas palavras que ------------


Haviam tantos dedos no ar,

todos queriam dar sugestões.

Com palavras que a rimar,

fizessem belas -----------


Depois de algum tempo passado,

todos juntos a escrever

O poema inacabado

já se fazia ---------------


Agora o poema incompleto

consegue dizer o que diz.

Com mais palavras, completo,

é um poema ------------

quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

O Cão Pimpão

Pimpão era um cão,

alegre e brincalhão,

Mas era tão comilão,

comia quilos de ração,

e comia sem razão,

tudo o que via no chão,

até um brinquedo avião,

e o sapato do João,

Comia com sofreguidão,

que metia confusão.

Comeu um queijo castelão,

Comeu feijoada com grão,

Comeu bolos e comeu pão,

e até sem explicação

tentou comer a televisão.

De tanto comer nessa aflição,

estava redondo como um balão.

Rebolava pelo chão,

de tão má disposição,

de tanto comer pois então.

Tinha problemas de coração,

e diabetes de cão,

Ai Pimpão, ai Pimpão,

tu tens de ter atenção.

Mas ele dizia que não,

não havia preocupação.

Até que um dia o João,

foi encontrar o Pimpão,

quase morto no chão,

quase sem respiração,

E chorando o João,

naquela grande aflição

para salvar o Pimpão

com o telefone na mão

Ligou pró doutor Salvação,

que chegou de foguetão,

e lhe fez reanimação.

deu-lhe logo uma injecção,

deu-lhe soro mesmo pra cão.

Passou-lhe receitação,

para nova alimentação,

e uma dieta de ração.

Ralhando disse ao Pimpão,

Olha lá bem pró João,

a chorar numa aflição.

Tu tens de ter atenção

comer com moderação,

É até falta de educação,

comeres que nem um leão,

Tem cuidado senão

morres com gula de cão.




quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

CATRAPUM , RIBOMBÃO

O Manel era bonzinho,
era até bom rapazinho,
Gostava de rir e falar,
mas se o faziam zangar...

Catrapum, ribombão,
como a ira de um trovão.

A Milú era uma gata,
muito calma e pacata.
Levava o dia a ronronar,
mas se lhe iam tocar...

Catrapum, ribombão,
como a ira de um trovão.

O Tuti era um coelho,
que gostava de se ver ao espelho.
Passava horas a roer,
mas se lhe iam mexer...

Catrapum, ribombão,
como a ira de um trovão.

A Inês era uma mocinha,
bem vestida, bonitinha,
Gostava muito de passear,
mas se a faziam chorar...

Catrapum, ribombão,
como a ira de um trovão.

Piruças era um lindo cão,
que gostava de lamber a mão.
Punha tudo em alvoroço,
Mas se lhe tiravam o osso...

Catrapum, ribombão,
como a ira de um trovão.

O Doutor Silva era cientista,
Falava como um artista.
Era um homem da ciência,
Mas se lhe tiravam a paciência...

Catrapum, ribombão,
como a ira de um trovão.

Se eram todos bem dotados,
tão calmos e sossegados.
Será que era uma mentira,
de repente tanta ira?

Catrapum, ribombão,
como a ira de um trovão.

É melhor ter outro jeito,
zangarmo-nos mas com respeito.
Porque alguém que fica irado,
parece até mal educado.

Catrapum, ribombão,
vive com paz no coração.

terça-feira, 15 de dezembro de 2020

PREGUICITE AGUDA

Havia um certo rapaz

que era de tanto capaz,

sem precisar de ajuda.

Mas coitado, logo à nascença,

apareceu-lhe uma doença,

a preguicite aguda.


De manhã a mãe chamava

mas ele não se levantava,

queria ficar a dormir.

Porque não gostava da escola,

Mas para ir jogar à bola,

despachava-se a fugir.


Na escola ficava amuado,

por vezes até zangado,

não queria aprender.

Até dizia um nome feio,

Mas na hora do recreio,

lá ía ele a correr.


Era uma dor de cabeça,

Quando se sentava à mesa,

na hora de almoçar.

Até gostava da comida,

Mas engolia de fugida,

Com preguiça de mastigar.


Era só quês e porquês,

pra fazer os TPCs

Quando a casa chegava.

A vontade era tão pouca,

Que a mãe ficava louca,

e todo o dia ralhava.


O pai, ao qual tinha mais respeito,

falava-lhe então a preceito,

Num tom sério e vagaroso:

Filho, tu tens tanta virtude,

Mas tens de mudar de atitude

deixar de ser preguiçoso.


Ele respondia que sim,

Mas conversa chegada ao fim,

Voltava tudo à mesma.

Qualquer coisa que fazia,

era sempre uma agonia,

tão veloz como uma lesma.


Mas que doença terrível,

parecia quase impossível,

Encontrar-lhe uma cura.

A preguicite é tramada,

nunca deixa fazer nada,

e há tanto tempo que dura.


O rapaz lá foi crescendo,

tantos problemas foi tendo,

tantos males lhe aconteceu.

Até que um certo dia,

o rapaz, por ironia,

a preguiça entendeu.


Percebeu que na verdade,

se mostrasse mais vontade,

No que tinha de fazer.

Ganhava mais simpatia,

e sendo bom no que fazia,

era bem fácil vencer.


Agora, já homem feito,

o rapaz estudou direito,

e num doutor se tornou.

Mas ainda vive a lembrança,

da preguicite de criança,

que só ele próprio curou.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

AI JOÃO, AI JOÃO

Ai João, aí João


O João tem uma bola,

que leva dentro da sacola

para quando sai da escola

ir para o pátio jogar.

E a bola salta, rebola,

dá-lhe com o pé e com a tola,

Mas o João se isola,

sózinho para brincar.


Ai João, aí João


O João tem um pião,

escondido no bolso do calção,

e uma corda pois então,

para com o pião brincar.

E o pião salta-lhe da mão,

e roda roda no chão,

e o João fica em aflição

Se alguém o quer ver rodar.


Ai João, aí João


O João tem uma bicicleta,

bem bonita, a predilecta,

e quer na curva quer na recta,

É ver o João pedalar.

Em sprint ele chega à meta,

como campeão e atleta,

Mas de forma incorrecta,

não deixa mais ninguém andar.


Ai João, aí João


O João tem tecnologia,

Telefone, tablet e fantasia,

que fazem pura magia,

Em jogos para jogar.

Ele passa parte do dia,

nessa imensa alegria,

Mas o João, por ironia,

não deixa ninguém lhes tocar.


Ai João, aí João


O João é um sortudo,

pois ele tem quase tudo,

Tem tudo o que um miúdo

possa algum dia sonhar.

Mas o João é sisudo,

já não fala, é quase mudo,

pois apesar de ter tudo,

não tem com quem brincar.


Ai João, aí João


Ai João, tu tens de ver,

tens de tentar perceber,

que isso de tudo ter,

pode bem ser um castigo.

Ai João, tu vais crescer,

e na vida que vais viver,

o melhor que podes ter,

É um verdadeiro amigo.


Ai João, aí João



COISAS DA INVEJA

O pobre do velho sapo,
que já dizia coisas sem nexo
Andava feito num farrapo,
por se achar um velho trapo,
ao ver na água seu reflexo.

Falava com inveja e desdém
Do seu vizinho camaleão.
Pelas qualidades que tem,
Subir árvores como ninguém,
e mudar de cor, pois então.

Mas o camaleão coitado,
Deixava o sapo falar.
Andava sempre angustiado,
nas árvores empoleirado,
porque não sabia nadar.

Ficava ainda mais invejoso,
ao ver o colibri voar.
E ele ali, vagaroso,
aguardando atento pelo almoço,
sem o poder ir buscar.

O colibri exibicionista,
Pairava sobre uma flor.
Armado em malabarista,
como se fosse um artista,
voando em seu redor.

Ele disfarçava o seu medo,
da sua pequenez fatal.
E admirava em segredo,
Lá no alto dum penedo,
o voo da águia real.

A àguia em voos rasantes,
e quase sempre certeiros,
Caçava pobres rastejantes,
com inveja dos elefantes,
serem tão bons companheiros.

Andavam sempre em manada,
em familia, em protecção.
Enquanto que a àguia coitada,
lutava desesperada,
apenas para procriação.

Mal sabia ela que o elefante,
no seu lento e pesado andar.
Debaixo de um sol escaldante
chorava por não ser elegante,
e por não saber saltar.

Se fosse pelo menos como a hiena,
se pelo menos pudesse sorrir.
Talvez assim valesse a pena,
tão fastidiosa faiena,
e um tão penoso carpir.

Mas a hiena achava estranho,
o desejo do elefante.
Precisaria de menor empenho,
se tivesse aquele tamanho,
e seria mais importante.

O que ela na verdade queria,
era ser como o leão.
Ser o rei da pradaria,
respeitado de noite e dia,
numa imponente solidão.

Ah mas o rei tinha um problema,
um segredo bem guardado.
Vivia num grande dilema,
uma história, quase poema,
que a ninguém havia contado.

-Se eu pudesse seria serpente!
Dessas com veneno mortal.
Dizia o leão descontente,
porque ser rei de toda a gente,
não tem vantagens afinal.

A serpente quando o ouviu,
nem queria acreditar.
Ter de dormir meses a fio,
comer de verão, porque no frio,
nem sequer podia rastejar.

Antes fosse lagarta feia,
porque ser serpente é uma treta.
Porque a lagarta ao morrer,
ainda pode vir a ser,
uma linda borboleta.

A lagarta não achou graça,
Pensou que era piada.
Minha vida é uma desgraça,
e tão depressa a vida passa,
que eu nem sequer dou por nada.

Sei que morro em borboleta,
mas sou um pobre farrapo.
Tudo em mim se espeta,
minha vida é uma treta,
quem me dera ser um sapo.

E para ter final a jeito
fica então a moral da história,
Não há nenhum ser perfeito,
Mas cada um no seu jeito,
deixa no mundo sua glória.




sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

JÁ NÃO SONHO

Já não sonho como sonhava outrora,

Já não me iludo com fantasias.

Já não quero que um minuto seja uma hora,

Já não quero que horas sejam dias.

Quero saber-me no aqui e agora,

No antígono de meus sonhos e utopias.

Porque há um momento de perceber quem somos

Entre os desejos de ser e quem realmente fomos.


Já não quero sonhar como eu sonhava,

Já não tenho tempo para perder com ilusões.

Já não quero acreditar como acreditava,

Já não quero sentir novas emoções.

Quero ser apenas eu, como sou,

sonhador cansado de tantas desilusões.

Porque o tempo, vai-me roubando a esperança,

e o sonho, nem tudo na vida alcança.


Já não me iludo numa dourada quimera,

Já não sou surdo mudo, nem herói ou campeão.

Já sou tão pouco metade daquilo que era,

Já não sou poema, nem música, nem canção.

Quero apenas uma palavra sincera

que me aqueça a alma e me explique a razão.

Porque sonhando aprendi com o passar da idade,

que é melhor aprender a viver a realidade.

VOU

Vou...

Vou por aí, procurar por mim,

ciente da dificuldade de me encontrar.

Vou ao horizonte, atravesso a ponte,

e talvez me encontre

sentado à beira-mar.


Vou...

Vou sem destino, procurar o menino,

o ingénuo sonhador que me conheci.

Vou na ilusão, em inquietação,

descobrir a razão

porque me perdi.


Vou...

Vou embalado no vento, à procura de alento,

tentar descobrir em que episódio fiquei.

Vou em busca do paraíso, que me dê um sorriso,

ou até do juízo,

que perdi e não sei.


Vou...

Vou sem partir, e sem sequer sair,

pois dou por mim sempre no mesmo lugar.

Vou nesta fuga sem jeito, procurar o preceito,

porque me assiste o direito,

de não querer ficar.


Vou...

Vou contar as estrelas, mas nem consigo vê-las,

porque a noite tão escura me faz adormecer.

Vou num sono profundo, procurar outro mundo,

indagar no meu fundo,

o que é feito do meu ser.


Vou...

Vou acelerar os meus passos, e abrir os meus braços,

sem olhar para trás em tão breve despedida.

Vou e não levo pena, apenas uma mão que acena,

enquanto tudo me condena,

a ter de viver esta vida.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

QUERO TANTO...

Quero tanto pernoitar em ti,

sentir do teu corpo nu esse calor que aconchega,

essa pele descoberta por meus dedos,

que até meus mais recônditos segredos,

desinquieta e desassossega.

Quero beijar-te num só tão doce beijo,

que te percorra o corpo em desejo,

Em prazeres derradeiros.

Quero parar os ponteiros,

num tempo que não tenha fim.

Quero beber-te, comer-te, 

saciar teu corpo de mim.

Lamber-te calma e suavemente,

onde o teu corpo mais sente,

nessa expressão que não mente,

de um prazer louco e sem fim.

Murmúrios, palavras ofegantes e ternas,

enquanto te abro as pernas,

numa vontade incontida,

e te penetro extasiado,

Com o carinho delicado

de quem encontra a própria vida.

Quero sentir os teus seios,

roçando suados em meu peito,

onde bate meu coração

acelerado e sem jeito.

Quero olhar-te nos olhos,

dizer-te tudo sem falar.

E até os teus gemidos,

são música para os meus ouvidos,

onde eu anseio cantar.

Sentir tua pele a ferver...

Sentir teu corpo a tremer...

Sentir-te a sentir prazer...

E num momento, imaculado,

és um ser incontrolado

voando na louca excitação.

Cravas-me unhas nas costas,

falas sem receio o que gostas,

incendeias de paixão.

E eu, que não sei resistir,

a tão excitável visão,

como louco, deixo-me ir,

voo contigo, e depois....

A sublimação entre os dois.

Quero ver-nos suados, cansados,

prostrados de um prazer satisfeito.

Nossos corpos entrelaçados,

colados, encostados,

e o teu rosto no meu peito.

Como se num só momento,

toda a paz e alento

nos invadisse a alma.

Nessa paixão que incendeia,

e o espírito saboreia,

e que só o amor acalma.

Quero tanto...

Por isso no desejo eu te chamo.

Quero contrariar os revezes,

para dizer-te milhões de vezes,

o quanto te adoro e te amo.



quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

IMPERFEITO

Sou um ser discreto, imperfeito
Sou da utopia, pura ilusão.
Sou a habilidade sem jeito,
Sou o torto sem o direito,
desejo efémero da perfeição.

Sou um ser confuso, imperfeito
Sou o fruto de quem me fez.
Sou rosa desfolhada no peito,
Sou caminho largo e estreito,
pedra de calçada talvez.

Sou um ser inquieto, imperfeito
Sou tela em branco por pintar.
Sou delírio já contrafeito,
Sou pássaro num parapeito,
que já não sabe cantar.

Sou um ser estúpido, imperfeito
Sou certo de ter ilusões.
Sou a negação do que aceito,
Sou a mórbida visão que espreito,
nos meus milhares de questões.

Sou um ser perdido, imperfeito
Sou tentativa e desilusão.
Sou o que ainda não está feito,
Sou mais do que trago no peito,
nesta alma em construcção.

Sou um ser contido, imperfeito
Sou incerteza da razão.
Sou o refazer do refeito,
Sou o oposto do perfeito,
busca eterna da perfeição.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

Abecedário do Amor

Com A eu te escrevo amor,

Com B eu te dou um beijo.

No C te dou meu carinho,

e no D o meu desejo.

É com o E que eu te esperei

e com F em ti eu fico.

Com o G te glorifico

e com H te honrei.

Com o I tu me impeles

e no J és meu jasmim

no K meu Keep Calm

No L és meu latim.

No M és o meu mundo

No N és meu Narciso

No O sou oriundo

do P onde te preciso.

Com Q te chamo querida

Com R minha razão.

Com S serás saudade

Com T minha tentação.

No U tu és a única

No V a minha vida.

No W a minha web

No X és xilogravura

No Y és meu yes

No Z és zimbradura

És mais, muito mais que tudo,

muito além dum abecedário.

Sem ti eu seria mudo,

Com tudo virado ao contrário.

A NOVA POESIA

Os poetas já não rimam...

Não são como antigamente.

Escrevem palavras que exprimam

e que em si próprios redimam,

tudo o que a alma sente.


Excedem-se no que é metafórico,

Para o que é simples dizer.

Num conjunto bem pictórico,

de frases por entender.


Tal como um pintor abstracto,

que solta pinceladas da mão.

Mas depois tem nobre explicação,

para as manchas que pintou,

E encontra um sentido lato

para algo que visionou.


Já não existem Camões,

Já não existem Arys,

Já não se escrevem canções

com os devidos pontos nos is.


Já não há poemas de Espanca,

nem a beleza de Andrade.

Chora triste a saudade,

sem os poetas de outrora

que brincavam com a rima

numa perfeita harmonia

e na métrica de cada verso

compunham a melodia

que entoava no universo

como verdadeira poesia.


Agora todos são poetas.

Todos querem ser fingidores.

Falsos escritores ou profetas,

que sem aptidões concretas,

rabiscam as suas dores,

ou os seus males de amores.

Como quem canta um fado,

e logo se julga fadista.

Num qualquer poema cantado

sem ter alma de artista.


Ah! Como eu gostava de ser

um poeta verdadeiro.

Ando por aqui a escrever

para tentar perceber

se sou um poeta inteiro.

Escrevo a dor que inquieta...

Escrevo a minha melancolia...

Sem saber se sou poeta,

ou sou frustrada poesia.





quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

NÃO ME LARGUES A MÃO

Não me largues a mão.

Deixa-me guiar-te, atravessar-te a estrada

irei contigo a qualquer lado.

Acompanhar-te na tua longa caminhada

Sendo o teu fiel soldado.

Deixa-me ser sol ou lua cheia,

se acaso te perderes na escuridão.

Ser a bússola que norteia,

a tua débil orientação.


Não me largues a mão.

Deixa-me levar-te e ensinar-te

tudo o que eu já aprendi 

Deixa-me mostrar-te e contar-te

os caminhos que eu percorri.

Deixa-me ser o teu afago

o conforto do teu aconchego

Deixa-me ser eu que apago,

algum teu desassossego.


Não me largues a mão.

Deixa-me proteger-te e amar-te

sendo o teu porto de abrigo.

Num mundo que quero dar-te,

sendo teu confidente e amigo.

Deixa-me ser teu herói

tua fonte de sabedoria.

e se algo em ti te dói,

fico eu em agonia.


Não me largues a mão.

Deixa-me dar-te toda a ternura,

e tudo o mais que eu possa dar.

Nessa tão ingrata aventura,

onde te preparo para voar.

Deixa-me ser teu escudeiro,

mesmo que não voltes ao ninho.

Deixa-me ser todo, inteiro,

uma constante no teu caminho.


Não me largues a mão.

Perdoa-me porque eu também falhei,

em escolhas erradas que fiz.

Mas foi porque lutando tentei,

ser outro alguém mais feliz.

Desculpa-me não te ter dado,

mais do que  eu te pude dar.

Mas daria a vida de bom grado

para a tua vida salvar.


Não me largues a mão.

Agora sou eu que preciso

que me atravesses a estrada.

Amparado pelo teu sorriso,

a passear de mão dada.

Agora peço eu que me leves,

para brincar no jardim.

Os momentos contigo são breves,

e eu já caminho pró fim.


Não me largues a mão.

Lembra-te que te ofereci a minha,

na tua tão veloz meninice.

Agora em mim tudo se encaminha,

para uma solitária velhice.

Mas não te prendas por mim,

abre as asas, sê feliz e vai.

Se não puderes dar-me a mão no fim

não esqueças nunca que fui teu pai.


quarta-feira, 25 de novembro de 2020

PERMISSÃO

Permite-me...

Permite-me roubar-te uns momentos

para que me possas ler ou ouvir.

Falando-te dos meus sentimentos,

do meu chorar, do meu sorrir,

explicando-te os meus tormentos,

e tudo o que estou a sentir.

Permite-me que eu tente,

chegar ao teu coração.

Mas para isso te peço, 

Permissão.


Permite-me...

Permite-me dar-te um conselho,

porque é do pouco que posso dar.

Porque já caminho para velho,

e foram muitos anos a pensar.

Mas quando em frente ao espelho,

não me consigo encontrar.

Permite-me esta ousadia,

de querer chamar-te à razão.

Mas para isso te peço,

Permissão.


Permite-me...

Permite-me que seja um intruso,

desvendando o teu ser.

Neste jeito que eu sempre uso,

de te tentar compreender.

De transformar o que é confuso,

Em algo simples de dizer.

Permite-me olhar-te nos olhos,

e ler a tua expressão.

Mas para isso te peço,

Permissão.


Permite-me...

Permite-me ficar de mão dada

fazer de ti meu fiel abrigo.

Pois tenho minha vida contada,

para poder estar contigo.

Se não puder dar-te nada,

fica com tudo o que eu digo.

Permite-me morrer em teu peito,

ouvindo o teu coração.

Mas para isso te peço,

Permissão.


Permite-me...

Permite-me que sejas o que resta,

neste meu breve morrer.

Porque eu morrerei em festa,

enquanto em ti eu viver.

Porque de mim o que presta,

foi o que dei para te ter.

Permite-me ser eternamente,

luz da tua escuridão.

Mas para isso te peço,

Permissão.


Permite-me...

Permite-me que a tua presença,

seja o ar que ainda respiro.

Que amar-te não seja ofensa,

mesmo quando me retiro.

Porque querer-te é uma doença,

onde me delicio e me firo.

Permite-me que adormeça,

na palma da tua mão.

Mas para isso te peço,

Permissão.


Permite-me...

Permite-me que cante ainda,

canções que não te cantei.

Porque esta paixão não finda,

nos versos onde te amei.

Como minha princesa linda,

que com meu amor coroei.

Permite-me levar-te na alma,

aos confins da minha solidão.

Mas para isso te peço,

Permissão.


Permite-me...

Permite-me um último olhar,

e um beijo de despedida.

Para que possa no além recordar,

que foste minha essência de vida.

Por isso não te quero a chorar,

na hora da minha partida.

Permite-me ser feliz memória,

a tua mais doce e maior paixão.

Mas para isso te peço,

Permissão.

terça-feira, 24 de novembro de 2020

PALAVRAS

Há palavras que nos beijam doce e suavemente a alma.

Que presenteiam o inesperado como murmúrio em ternura.

Outras há que são como facas cortando a paz e a calma,

que incendeiam o sangue em laivos puros de loucura.


Há palavras que nos acolhem num profundo aconchego,

que nos dizem e dão tanto mesmo sendo tão poucas.

Outras há que banhadas em fel nos lançam desassossego,

como farpas contundentes saídas de incontroladas bocas.


Há palavras simples e puras que nos dão tanto conforto,

que parecem embebidas num manto de ilusão e magia.

Outras há que cheiram à putrefacção de um ser morto,

cravadas no pensamento que sucumba em agonia.


Há palavras que são como flores de um qualquer jardim,

que florescem em nós como um sol de Primavera.

Outras há que despedaçam e trituram até ao fim,

que nos fazem conhecer o lado sombrio da quimera.


Há palavras que nos embalam com tão terna suavidade,

que nos motivam ansiosamente por um novo amanhecer.

Outras há que mesmo transportando a dura verdade,

se instalam em nós e nos impedem de adormecer.


Há palavras sensatas que nos vestem de alento,

que nos fazem visualizar apenas coisas bonitas.

Outras há que criam um rubor de febre e tormento,

e se prolongam nos anos depois de serem ditas.


Há palavras que são como mel e no amor nos modificam,

e nos ajudam a perceber quem realmente amamos.

Outras há peritas na mágoa que por dentro edificam,

motivadoras impunes de quem lentamente nos afastamos.


Há palavras que mesmo que fiquem para sempre caladas,

conseguimos ler atentos na expressão de um olhar.

Outras há que jamais deveriam ser ditas ou faladas,

na insensatez do dizer sem a clivagem do pensar.


Há palavras ingénuas e até gentilmente ignorantes,

e que tão mais facilmente nos ajudam a perdoar.

Outras há que são vis, tão cruéis e tão repugnantes

na sua intenção maléfica de querer ferir e magoar.


Há palavras que sonham e com luz transformam vidas,

e fomentam esperança, amizade, amor e paz.

Outras há que são eternamente arrependidas,

no infortúnio do dito que nunca mais volta atrás.


Há palavras que fecundam como sementes de esperança,

como fermento do querer ou levedura da vontade.

Outras há que nasceram do ódio e da pura vingança,

numa fome e sede insaciáveis de sarcástica maldade.


Há palavras que em metáforas são a mais bela poesia,

de versos cantados ou declamados por qualquer actor.

Outras há que são o epítome da cansativa agonia,

que se cravam na carne e nos dilaceram em dor.


Há palavras que queremos que se derretam na pele,

na brandura do toque tão suave e tão quente.

Outras há que nos vestem por dentro e a alma repele,

por não saber sequer explicar o que se sente.


Há palavras que são as mais belas recordações,

e vão alimentando no tempo essa tão doce lembrança.

Outras há que serão até à morte as piores desilusões,

e se arrastam num querer esquecer que tanto nos cansa.


Há palavras silenciosas que vivem no pensamento,

apenas no cérebro de quem as poderá perceber.

Outras há que se soltam esvoaçando no vento,

na irresponsabilidade daqueles que as ousam dizer.


Há palavras que sendo simplesmente a nossa expressão,

a nossa forma de pensar saída em sons pela voz.

Outras há que nos devem chamar à constante atenção, 

das ideias que em palavras saiem de dentro de nós.




sexta-feira, 20 de novembro de 2020

HISTÓRIA DE UM HOMEM SÓ

 A rua já estava calada,

e a noite já tão cansada,

foi-se deitar, adormeceu.

No céu, apenas a lua,

tão serena e toda nua,

testemunha do que aconteceu.


Havia um homem perdido,

pela vida já vencido,

na escuridão vagueando.

Era um homem sem rosto,

marcado pelo desgosto,

dos amores que foi amando.


Nem o corpo sentia o frio,

só na alma tinha o vazio,

de estar velho e abandonado.

Daqueles que tanto amou,

Nem um sequer restou,

para ficar a seu lado.


Como se fosse um pecado,

por na vida ter amado,

dando tudo o que tinha.

São os desígnios da sorte,

resta-lhe agora a morte,

para onde se encaminha.


Olha ainda para trás,

na esperança que a paz,

lhe preencha o coração.

Mas no silêncio atroz,

não há sequer uma voz,

que lhe afague a solidão.


Onde estão tantos amigos,

será que foram inimigos,

sem saber a vida inteira?

Onde está toda essa gente,

outrora de risos contente,

numa qualquer bebedeira.


Onde estão os amados filhos,

que quando metidos em sarilhos,

Ele tantas vezes salvou?

E do tanto que fez de bem,

se ainda resta alguém,

por um seu erro o condenou.


Os anos passaram fugindo,

como um relógio mentindo,

ao tempo que não quer passar.

Hoje vive de lembranças,

de tempestades e bonanças,

onde não pode voltar.


Percorre agora um labirinto,

cansado, sedento e faminto,

prostrado nos braços da dor.

Mas não há água que satisfaça,

nem comida que o faça,

matar a ausência do amor.


Quando jovem, adolescente,

também ele olhou prá frente,

numa vida imesurável.

Mas mesmo vivendo sem pressa,

os ponteiros andaram depressa,

e o tempo não é retornável.


Resta-lhe agora, silencioso,

esse mundo tenebroso,

Duma velhice esperada.

E como que em despedida,

agradece na mesma à vida,

por tão longa caminhada.


Já vai despontando o dia,

o sol pinta com alegria,

a rua que a noite entristeceu.

E nessa luz que encanta,

um pássaro ainda canta,

poemas que o homem escreveu.


Do homem, não há memória,

ficou tão só sua história,

de uma vida banal e comum.

Mas será bom não esquecer,

que está bem poderá ser,

a história de qualquer um.

quinta-feira, 19 de novembro de 2020

EU NÃO SEI....

Eu não sei de onde venho,

menos sei para onde vou.

Sou saudade sem tamanho,

Não sou nada do que tenho,

pois do ter já nada sou.


Eu não sei qual o lugar,

qual o sitio donde vim.

Sou de onde o céu encontra o mar,

entre azuis a divagar,

na escuridão que há em mim.


Eu não sei do meu passado,

do futuro eu menos sei.

Sou do presente alheado,

Sou a letra de um fado,

de versos que não cantei.


Eu não sei o que eu quero,

nem se ganhei ou perdi.

Se sou falso ou sincero,

sou a voz de um ser austero,

na liberdade que vivi.


Eu não sei dos meus caminhos,

Em que estradas caminhei.

Sou como velhos pergaminhos,

guardando segredos, sózinhos,

pelas pedras que eu pisei.


Eu não sei do meu destino,

se me dará o que eu quis.

Se dos sonhos de menino,

há um homem em desatino,

na insensatez do que fiz.


Eu não sei mais o que faço,

o que deva ainda fazer.

Sou a sombra de cada passo,

na solidão do abraço,

onde me quero esquecer.


Eu não sei se sou poeta,

se sou das palavras orgia.

Sou a curva numa recta,

sou a certeza incorrecta,

sou metáfora da poesia.


Eu não sei se ainda desejo,

nem sei de mim a verdade.

Se me quedo, ou se almejo,

na sofreguidão de um beijo,

disfarçar minha ansiedade.


Eu não sei quanto vivi,

Quanto tempo cá ficarei.

Sou os sonhos que padeci,

onde algures me perdi,

e nunca mais me encontrei.

segunda-feira, 16 de novembro de 2020

AMO-TE! SEM MAS NEM PORQUÊS.

 Amo-te! Eu só sei que te amo!

Este sentir indescritível que me aquece a alma,

que me acelera meu já cansado coração.

Essa voz doce e terna que me acalma,

e para o qual eu não encontro explicação.

Amo-te inteira, da cabeça aos pés!

Amo-te assim, tal como és!


Amo-te! Eu nem sei como te amo!

Só o teu rosto ilumina os caminhos que eu piso,

e apenas teu toque conforta os meus momentos de dor.

És o tudo e o nada que deste mundo preciso,

e o pleno e sentido significado da palavra amor.

Amo-te toda! Completamente.

Amo-te assim, inconsciente.


Amo-te! Nem sei o quanto te amo!

Porque o que sinto por ti, não tem escala nem medida,

dos sentimentos que vivi é de todos o mais forte.

O teu existir é em mim, razão da minha vida,

como se a tua ausência fosse a minha própria morte.

Amo-te tanto, meu doce terno!

Amo-te sempre, meu amor eterno!


Amo-te! Dir-te-ei sempre que te amo!

Nessa forma que tens e me encanta de sorrir,

nesse jeito engraçado e delicado ao falar.

E se te vejo triste sou eu que fico a sentir,

uma sensação inexplicável de querer eu chorar.

Amo-te sabes? Já te tinha dito?

Amo-te meu bem, meu amor infinito.


Amo-te! Nem este poema te diz o quanto te amo!

Nem sei dizer o que sinto na ternura do teu abraço,

e como me delicio no carinho dos teus beijos.

Basta ver-te, ouvir-te, tocar-te e todo o meu cansaço,

se transforma num mundo realizado de desejos.

Amo-te louco! Só porque sim!

Amo-te sempre, amor sem fim!


Amo-te! Talvez um dia saibas o quanto te amo!

Rendo-me e confesso que jamais to saberei dizer,

Mas dir-te-ei sempre que te amo sem mas nem porquês.

Porque naquela hora em eu te vi nascer,

afinal fui eu próprio que renasci outra vez.

Amo-te querida! Meu encanto e maravilha!

Amo-te com a vida, como só um pai ama uma filha.


quinta-feira, 12 de novembro de 2020

O PALHAÇO

 As mãos trémulas, riscavam o rosto cansado,

linhas que já sabiam de cor o seu caminho,

trespassando rugas de outro desenho pintado,

histórias ocultas de um longo passado,

de quem na multidão viveu sempre sózinho.


Silenciosos os momentos naquele camarim,

transformando seu rosto no espelho iluminado.

Na base branca uns toques de carmim,

Uma cabeleira, com careca, e por fim,

Um sumptuoso nariz vermelho abatatado.


E enquanto o fato mal engendrado vestia,

E os sapatos desproporcionados calçava 

O homem de si próprio se despia,

disfarçando no corpo a dor e a melancolia,

que dentro da sua alma transportava.


Ecoavam nos bastidores ruídos ansiosos,

de uma plateia que acredita num sonho profundo.

Por breves segundos ofegantes e nervosos,

colocando a máscara de sorrisos gloriosos,

As tábuas do palco se tornavam seu mundo.


Muito boa tarde minhas meninas e meus meninos.

Por entre uma gritaria em uníssono a entrada triunfal.

Peripécias, malabarismos, desatinos,

Tropeções, ilusões, canções e hinos,

despertando gargalhadas até ao final.


E por entre palavras e frases trocadas,

propositadamente mal percebidas

Desenvolvia as sequências estudadas,

Mas mais eram as parvoíces improvisadas,

soltando o riso e o encanto em jovens vidas.


Ali, mais do que o gosto de ser actor,

alimentava a sua alma e seu coração.

Numa plateia de sorrisos carregados de amor,

por momentos esquecia a sua própria dor,

a até ele acreditava naquela ilusão.


Voltava ao camarim, desfeito, cansado,

num aplauso de encore que não acontecia.

Mas enchia-lhe o peito saber que tinha deixado,

naquele palco antes vazio e calado,

um mundo de sonhos e fantasiosa alegria.


O suor no seu rosto ilustrava o cansaço,

debotando-lhe os traços da preciosa maquilhagem.

Novamente sózinho, o triste palhaço,

sentia-se ainda envolvido num abraço,

daquela tão efémera mas valiosa viagem.


Voltava a ser homem, voltava a ser gente,

O palhaço brincalhão numa mala guardava.

Num recanto da sua alma um sorriso contente,

Era bem mais importante e pertinente,

do que o cachet do qual tanto precisava.


O palhaço nunca mais aos palcos voltou,

Os sorrisos ingénuos nunca mais o viram.

Ninguém sabe, até hoje, onde será que ficou,

O homem cansado, o palhaço abandonou,

Mas o seu coração e alma nunca mais sorriram.


O homem, esse, ainda anda por aí...

Mas do palhaço já toda a gente se esqueceu.

Mas foi desse palhaço que belos momentos vivi,

nessa personagem que construí ,

porque afinal o homem, sou eu.







terça-feira, 10 de novembro de 2020

PAUSA

 A cada dia que passa, morro um pouco.

Não sei se me morre mais a alma,

se me morre mais o corpo...

Ou será um devaneio de estar a ficar louco?

E por estranho que pareça a vida parece parada...

Como um livro esquecido na biblioteca

com a última página arrancada.

Não acontece vida...

Não acontece sonho...

Não acontece nada!

Já não sei o que pensar, o que sentir...

Limito-me apenas a ser, a existir.

E nem um raio de sol me tira da escuridão,

nem uma festa no rosto me aquece o coração.

É como um estranho efeito,

que algures perdeu sua causa.

Será virtude? Será defeito?

Ou será só a vida em pausa?

A vida parece suspensa, mas o tempo ainda corre.

Entretanto vai-se o meu tempo, na vida que em mim morre.

Agarro-me a pequenos sonhos,

a todos os que quero e amo,

Mas afinal nos meus gritos,

É por mim próprio que chamo.

Onde será que eu fiquei?

Onde será que me perdi?

Nas canções que eu não cantei?

Ou nos poemas que não escrevi?

Como num autocarro em viagem, 

não sei em que paragem sair...

Sigo apenas uma miragem,

Mas não encontro em mim coragem,

para sequer me decidir.

Estarei eu em pausa , como a vida?

Introspectivo, em reflexão?

Tentando perceber os caminhos

procurando ser mais forte,

para quando chegarem novos ventos,

possa usufruir dos momentos,

que ainda me distanciam da morte.

Estou em pausa. Estou parado.

Estou sem futuro, sem passado.

Apenas consigo este poema escrever.

Palavras que me atropelam a mente,

e que jamais as saberei dizer.

Ah... Que saudade de um sorriso...

Daqueles em que sorrimos inteiros.

Inteiro, é o que eu me preciso,

seja na plenitude de um riso,

ou nos meus choros derradeiros.

Quem sabe? Talvez um dia....

Nesta minha pura utopia,

Nesta insensatez de profeta...

Se não me chegar a encontrar,

que alguém me possa chamar,

pelo menos , de poeta.



sábado, 7 de novembro de 2020

POEMA DA INQUIETAÇÃO

 Há um não sei quê de estranho que me invade a alma.

Um envelhecer taciturno que nem a poesia acalma.

Há uma vontade de partir, num desejo de ficar,

há um esgar de um sorrir, num contido chorar,

há um silêncio em segredo, que não se quer conter,

há uma angústia, um medo, na coragem que necessito ter.

Há em mim sentimentos escuros que me toldam a razão.

Um não perceber quem sou que me provoca inquietação.

Há uma réstea de um sonho, uma pálida esperança.

Há uma semente que eu ponho a germinar na bonança.

Há uma voz que me diz, para aceitar a realidade.

Há um não saber ser feliz, ou se há felicidade.

Há o passado que atormenta, mesmo que ultrapassado.

Há um presente que me tenta, para um futuro desejado.

Há palavras na minha boca, que se colam como beijos,

Há uma vontade louca, de satisfazer meus desejos.

Há um querer crescer constante, na vontade de ser melhor.

Há um querer ser amante, e entender o amor.

Há um tanto e há um nada, que se misturam em mim.

Há um pranto uma gargalhada, incoerentes e sem fim.

Há um desejo de escrever, que se torna incontrolável.

Há um não saber dizer, ou sentir o que é palpável.

Há um silêncio, quase mudo, nos gritos que ainda dou.

Há um querer ser tudo, do nada que afinal eu sou.

Há a falta de um abraço, de um beijo, de um abrigo.

Há a falta de um espaço, a falta de um amigo.

Há as saudades e as dores, daqueles que já partiram.

Há os jardins sem flores, de amores que não floriram.

Há um mundo com um porquê, que não sei perceber.

Há uma multidão que não me vê, e eu nem me estou a esconder.

Há um anoitecer sombrio, de um dia que talvez vá chegar.

Há ainda um lugar vazio, para quem quiser ficar.

Há poemas inquietos, rimas que se conjugam.

Há os que são incorretos, e sem me conhecer me julgam.

Há por fim, um olhar os ponteiros, vendo o tempo a passar.

Há em mim, sentimentos derradeiros, ao não saber que pensar.

segunda-feira, 2 de novembro de 2020

TEMPO SEM TEMPO

Houve um tempo,

Em que o tempo tinha tempo,

para saborear o vento,

para medir a palmo,

a imensidão do mar.

Houve um tempo,

Em que os homens sonhavam,

e as crianças plantavam,

sorrisos no seu brincar.

Houve um tempo,

Em que os cantores cantavam,

e os músicos tocavam,

inspiradas melodias.

Nesse tempo, 

ninguém deu valor ao tempo,

Julgou-se que ele era eterno,

E qualquer gesto meigo ou terno,

ficava sempre para depois,

Havia tempo para os abraços,

que ficavam esquecidos,

Havia tempo para os beijos,

que não se davam, vencidos,

Havia tempo para tudo,

quase tudo,

Até havia tempo para o amor...

Mas vivia-se tão depressa,

correndo e sempre à pressa,

Que pouco se aproveitava,

do que o tempo nos dava,

e fingiamos não perceber

do tanto que perdíamos,

nessa vida por viver.

Houve um tempo,

um longo tempo,

Em que os pais e os avós,

sentiram falta de nós,

É nós não tivémos tempo,

para o nosso tempo lhes dar.

E agora, 

que o tempo rouba tempo ao tempo,

choramos a saudade

de não os podermos beijar.

Os filhos pediam aos pais,

um pequeno tempo para brincar,

Mas havendo tempo a mais,

nunca havia tempo,

apenas desculpas,

de não haver tempo para parar.

Depois, veio outro tempo,

e ficámos até sem saber,

o que com esse tempo fazer...

O tempo mudou as rotinas,

como em vidas clandestinas,

fomos obrigados a viver.

Um tempo sem noite,

Um tempo sem dia,

Tempos de agonia,

Tempos de um não viver.

Só então se percebeu,

que o outro tempo que se viveu,

tinha tanto de errado.

Porque tendo tanto tempo,

vivia-se sempre sem tempo,

enquanto a vida passava ao lado.

Fizeram-se então promessas,

de acabar com as pressas,

Quando o tempo voltasse atrás...

Como se o tempo fosse moldável,

um relógio, regulável,

que pudesse andar para trás.

Gastámos tanto tempo,

a entender que o tempo,

É um espaço de cada um.

Dentro de um tempo comum.

São os pequenos tempos,

que fazem do nosso tempo,

um tempo muito melhor.

São escolhas que fazemos,

os tempos que vivemos,

porque o tempo que não escolhemos,

É sempre bem pior.

Hoje, não sei se o tempo tem tempo,

somos destinos em pausa,

somos sonhos sem causa,

numa roleta da sorte.

Somos um tempo parado,

sem futuro nem parado,

Entre a vida e a morte.

Mas neste tempo sem tempo,

há que encontrar a razão,

do tempo que vivemos assim.

O pormenor, o momento,

o sol, a chuva e o vento,

o amor que nos dá alento,

São o nosso melhor tempo,

antes que o nosso tempo tenha fim.

quinta-feira, 29 de outubro de 2020

ALENTO

Há em mim um não sei quê de esquisito,
Há um grito silencioso e aflito,
Incapaz de dizer ou de falar.
Uma amálgama confusa de sentimentos,
Um indecifrável turbilhão de pensamentos,
Como se a noite viesse para perdurar.

Os sonhos, que há muito já partiram,
nas agruras dos dias se diluiram,
Sendo agora a miragem de eternos desejos.
Erroneamente não sei o que me conduz,
Se nem no fundo do túnel vejo a luz,
Como posso das palavras fazer beijos?

Sinto-me gasto, cansado e ferido,
Como se estivesse perdido,
Dentro do ser que há em mim.
Procuro-me naquilo que eu era,
Como um sol sem Primavera,
num Outono que não tem fim.

Restam-me as palavras que rascunho,
Em jeito de um testemunho,
de tudo o que estou a sentir.
Para disfarçar a verdade,
na esperançosa eventualidade,
de alguém as querer ler ou ouvir.

Como posso saber do que sou feito,
se fui tantas vezes refeito
às circunstâncias da vida?
Como se encontra a bonança
numa constante mudança
leviana e indefinida?

Tantos caminhos, tantas estradas,
foram tantas encruzilhadas,
em que o destino me colocou.
Tantas lágrimas escondidas,
nas noites tão mal dormidas,
que o sofrimento secou.

Mas teimoso, segui viagem,
nem sei com que coragem,
pois só queria desistir.
O amor! O amor foi a razão,
pela qual meu coração,
tentava ainda sorrir.

Mas estou farto, cansado,
de tentar esquecer o passado,
e construir um novo eu.
O que não mata, desgasta,
e apetece dizer basta,
à vida que me venceu.

Eu nem me sei já exprimir...
Oh vida! faz-me sorrir,
traz-me sorrisos no vento.
Sei que pareço um louco,
Mas só te peço mais um pouco
de paciência e de alento.




domingo, 11 de outubro de 2020

Não me perguntes quem sou...

Não me perguntes quem sou!

Não to saberei dizer.

Talvez pedaços soltos de mim,

Como um puzzle que não tem fim,

num constante refazer.

Sou como pedra de calçada 

que farta de ser pisada

já está gasta e polida...

Sou como a velha canção 

da qual só lembram o refrão 

já sem essência de vida.


Não me perguntes quem sou!

Não to saberei explicar.

Talvez seja um pedaço de terra

Uma árvore no meio da serra,

Uma onda à beira mar...

Não sou quem vês à tua frente,

Já não sonho como antigamente,

Nos braços da ingenuidade...

Sou agora desgosto contido

Sou como um lobo ferido,

Na percepção da realidade.


Não me perguntes quem sou!

Não to saberei exprimir.

Sou como um Deus sem dom,

Sou como sorriso sem som,

Sou flor que não pode florir...

Não sou aquele que vejo ao espelho

Que bem mais cansado e velho,

Os anos de rugas pintou...

Sou eterno poeta delirante,

Sou jovem crente e amante,

Que a vida castigou.


Não me perguntes quem sou!

Não posso nem saberei responder.

Quem sabe eu seja um louco,

Que de tanto viveu tão pouco,

do que realmente queria viver...

Sou o espanto do que vou ouvindo,

Do que vou vendo e vou sentindo,

Nesta sociedade tão perdida...

Sou por isso um angustiado,

por ver o mundo dominado,

pela falta de valores de vida.


Não me perguntes quem sou!

Não quero falar mais de mim.

Como queres que mais eu diga,

Quando é tão grande a fadiga,

ao aproximar-me do fim...

Sou o resto dos tantos quase

Sou o rosto de tanta fase,

do feito e do que não fiz...

Sou o fruto do meu passado,

Sou finalmente amado,

e só isso me faz feliz.


Não me perguntes quem sou!

Não creio que vás entender.

Sou um guerreiro do azar sem sorte,

Que vendo chegar a morte,

quer ainda mais viver...

Sou a calmia dos ventos,

Sou a inquietação dos pensamentos,

Que não me deixa descansar...

Sou um apreciador dos momentos,

Que efémeros e lentos,

Me fazem ainda sonhar.


Não me perguntes quem sou!

Não te interessa quem eu seja.

Sou da tristeza um poeta,

Da felicidade um profeta,

Do abraço , quem deseja.

Sou um todo um quase nada,

Já perto do fim da estrada,

E não sei para onde vou...

Quando olho agora para trás 

Só quero seguir em paz

Sem nunca saber quem eu sou.