Novidade

Brevemente, além de leres poderás ouvir os meus poemas e prosas recitados por mim e com fundo musical.

segunda-feira, 2 de novembro de 2020

TEMPO SEM TEMPO

Houve um tempo,

Em que o tempo tinha tempo,

para saborear o vento,

para medir a palmo,

a imensidão do mar.

Houve um tempo,

Em que os homens sonhavam,

e as crianças plantavam,

sorrisos no seu brincar.

Houve um tempo,

Em que os cantores cantavam,

e os músicos tocavam,

inspiradas melodias.

Nesse tempo, 

ninguém deu valor ao tempo,

Julgou-se que ele era eterno,

E qualquer gesto meigo ou terno,

ficava sempre para depois,

Havia tempo para os abraços,

que ficavam esquecidos,

Havia tempo para os beijos,

que não se davam, vencidos,

Havia tempo para tudo,

quase tudo,

Até havia tempo para o amor...

Mas vivia-se tão depressa,

correndo e sempre à pressa,

Que pouco se aproveitava,

do que o tempo nos dava,

e fingiamos não perceber

do tanto que perdíamos,

nessa vida por viver.

Houve um tempo,

um longo tempo,

Em que os pais e os avós,

sentiram falta de nós,

É nós não tivémos tempo,

para o nosso tempo lhes dar.

E agora, 

que o tempo rouba tempo ao tempo,

choramos a saudade

de não os podermos beijar.

Os filhos pediam aos pais,

um pequeno tempo para brincar,

Mas havendo tempo a mais,

nunca havia tempo,

apenas desculpas,

de não haver tempo para parar.

Depois, veio outro tempo,

e ficámos até sem saber,

o que com esse tempo fazer...

O tempo mudou as rotinas,

como em vidas clandestinas,

fomos obrigados a viver.

Um tempo sem noite,

Um tempo sem dia,

Tempos de agonia,

Tempos de um não viver.

Só então se percebeu,

que o outro tempo que se viveu,

tinha tanto de errado.

Porque tendo tanto tempo,

vivia-se sempre sem tempo,

enquanto a vida passava ao lado.

Fizeram-se então promessas,

de acabar com as pressas,

Quando o tempo voltasse atrás...

Como se o tempo fosse moldável,

um relógio, regulável,

que pudesse andar para trás.

Gastámos tanto tempo,

a entender que o tempo,

É um espaço de cada um.

Dentro de um tempo comum.

São os pequenos tempos,

que fazem do nosso tempo,

um tempo muito melhor.

São escolhas que fazemos,

os tempos que vivemos,

porque o tempo que não escolhemos,

É sempre bem pior.

Hoje, não sei se o tempo tem tempo,

somos destinos em pausa,

somos sonhos sem causa,

numa roleta da sorte.

Somos um tempo parado,

sem futuro nem parado,

Entre a vida e a morte.

Mas neste tempo sem tempo,

há que encontrar a razão,

do tempo que vivemos assim.

O pormenor, o momento,

o sol, a chuva e o vento,

o amor que nos dá alento,

São o nosso melhor tempo,

antes que o nosso tempo tenha fim.

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