Novidade

Brevemente, além de leres poderás ouvir os meus poemas e prosas recitados por mim e com fundo musical.

sexta-feira, 20 de novembro de 2020

HISTÓRIA DE UM HOMEM SÓ

 A rua já estava calada,

e a noite já tão cansada,

foi-se deitar, adormeceu.

No céu, apenas a lua,

tão serena e toda nua,

testemunha do que aconteceu.


Havia um homem perdido,

pela vida já vencido,

na escuridão vagueando.

Era um homem sem rosto,

marcado pelo desgosto,

dos amores que foi amando.


Nem o corpo sentia o frio,

só na alma tinha o vazio,

de estar velho e abandonado.

Daqueles que tanto amou,

Nem um sequer restou,

para ficar a seu lado.


Como se fosse um pecado,

por na vida ter amado,

dando tudo o que tinha.

São os desígnios da sorte,

resta-lhe agora a morte,

para onde se encaminha.


Olha ainda para trás,

na esperança que a paz,

lhe preencha o coração.

Mas no silêncio atroz,

não há sequer uma voz,

que lhe afague a solidão.


Onde estão tantos amigos,

será que foram inimigos,

sem saber a vida inteira?

Onde está toda essa gente,

outrora de risos contente,

numa qualquer bebedeira.


Onde estão os amados filhos,

que quando metidos em sarilhos,

Ele tantas vezes salvou?

E do tanto que fez de bem,

se ainda resta alguém,

por um seu erro o condenou.


Os anos passaram fugindo,

como um relógio mentindo,

ao tempo que não quer passar.

Hoje vive de lembranças,

de tempestades e bonanças,

onde não pode voltar.


Percorre agora um labirinto,

cansado, sedento e faminto,

prostrado nos braços da dor.

Mas não há água que satisfaça,

nem comida que o faça,

matar a ausência do amor.


Quando jovem, adolescente,

também ele olhou prá frente,

numa vida imesurável.

Mas mesmo vivendo sem pressa,

os ponteiros andaram depressa,

e o tempo não é retornável.


Resta-lhe agora, silencioso,

esse mundo tenebroso,

Duma velhice esperada.

E como que em despedida,

agradece na mesma à vida,

por tão longa caminhada.


Já vai despontando o dia,

o sol pinta com alegria,

a rua que a noite entristeceu.

E nessa luz que encanta,

um pássaro ainda canta,

poemas que o homem escreveu.


Do homem, não há memória,

ficou tão só sua história,

de uma vida banal e comum.

Mas será bom não esquecer,

que está bem poderá ser,

a história de qualquer um.

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