Novidade

Brevemente, além de leres poderás ouvir os meus poemas e prosas recitados por mim e com fundo musical.

terça-feira, 24 de novembro de 2020

PALAVRAS

Há palavras que nos beijam doce e suavemente a alma.

Que presenteiam o inesperado como murmúrio em ternura.

Outras há que são como facas cortando a paz e a calma,

que incendeiam o sangue em laivos puros de loucura.


Há palavras que nos acolhem num profundo aconchego,

que nos dizem e dão tanto mesmo sendo tão poucas.

Outras há que banhadas em fel nos lançam desassossego,

como farpas contundentes saídas de incontroladas bocas.


Há palavras simples e puras que nos dão tanto conforto,

que parecem embebidas num manto de ilusão e magia.

Outras há que cheiram à putrefacção de um ser morto,

cravadas no pensamento que sucumba em agonia.


Há palavras que são como flores de um qualquer jardim,

que florescem em nós como um sol de Primavera.

Outras há que despedaçam e trituram até ao fim,

que nos fazem conhecer o lado sombrio da quimera.


Há palavras que nos embalam com tão terna suavidade,

que nos motivam ansiosamente por um novo amanhecer.

Outras há que mesmo transportando a dura verdade,

se instalam em nós e nos impedem de adormecer.


Há palavras sensatas que nos vestem de alento,

que nos fazem visualizar apenas coisas bonitas.

Outras há que criam um rubor de febre e tormento,

e se prolongam nos anos depois de serem ditas.


Há palavras que são como mel e no amor nos modificam,

e nos ajudam a perceber quem realmente amamos.

Outras há peritas na mágoa que por dentro edificam,

motivadoras impunes de quem lentamente nos afastamos.


Há palavras que mesmo que fiquem para sempre caladas,

conseguimos ler atentos na expressão de um olhar.

Outras há que jamais deveriam ser ditas ou faladas,

na insensatez do dizer sem a clivagem do pensar.


Há palavras ingénuas e até gentilmente ignorantes,

e que tão mais facilmente nos ajudam a perdoar.

Outras há que são vis, tão cruéis e tão repugnantes

na sua intenção maléfica de querer ferir e magoar.


Há palavras que sonham e com luz transformam vidas,

e fomentam esperança, amizade, amor e paz.

Outras há que são eternamente arrependidas,

no infortúnio do dito que nunca mais volta atrás.


Há palavras que fecundam como sementes de esperança,

como fermento do querer ou levedura da vontade.

Outras há que nasceram do ódio e da pura vingança,

numa fome e sede insaciáveis de sarcástica maldade.


Há palavras que em metáforas são a mais bela poesia,

de versos cantados ou declamados por qualquer actor.

Outras há que são o epítome da cansativa agonia,

que se cravam na carne e nos dilaceram em dor.


Há palavras que queremos que se derretam na pele,

na brandura do toque tão suave e tão quente.

Outras há que nos vestem por dentro e a alma repele,

por não saber sequer explicar o que se sente.


Há palavras que são as mais belas recordações,

e vão alimentando no tempo essa tão doce lembrança.

Outras há que serão até à morte as piores desilusões,

e se arrastam num querer esquecer que tanto nos cansa.


Há palavras silenciosas que vivem no pensamento,

apenas no cérebro de quem as poderá perceber.

Outras há que se soltam esvoaçando no vento,

na irresponsabilidade daqueles que as ousam dizer.


Há palavras que sendo simplesmente a nossa expressão,

a nossa forma de pensar saída em sons pela voz.

Outras há que nos devem chamar à constante atenção, 

das ideias que em palavras saiem de dentro de nós.




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