Novidade

Brevemente, além de leres poderás ouvir os meus poemas e prosas recitados por mim e com fundo musical.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Reflexões de Algibeira 1 ( Gosto de ti! )


Gosto de ti! Tão simples, tão fácil de dizer. Duas palavras apenas que se conjugam para exprimir um sentimento ou uma sensação espontânea. Mas, na verdade parece que esta simples frase encerra muito mais dentro de si. Infelizmente, a deturpação ou a simples conotação defeituosa de palavras fazem com que por vezes não as utilizemos, ou que as evitemos para que não sejamos mal entendidos.
Eu, tenho procurado fugir da hipocrisia do silêncio que não nos deixa dizer o que sentimos, que nos cala o que de mais sincero existe em nós, numa tentativa de expurgar um outro ser em mim, de libertar um outro estado de ser.
Há alguns anos atrás, confrontei-me com uma das maiores dores da minha vida até ao momento, a de perder meu pai. Mas acrescido a essa enorme dor, a essa perda, que ainda hoje me fere e transtorna embora tenha aprendido a viver com ela, maior ainda a dor de não lhe ter dito mais vezes o quanto o amava, o quanto ele valia para mim, o grande amor que lhe tinha. Talvez por isso, cada vez mais comecei a dizer aos que amo, que os amo, assim, sem mais nem menos, sem ser preciso ocasiões ou momentos especiais para o dizer. Porque o tempo é curto, para sermos e dizermos tudo o que queremos, e eu, não quero partir sem que saibam que os amei!
O engraçado é que esse meu hábito, começou a invadir também os que amo, e muitas vezes, se calhar não tantas como eu queria, também já mo dizem a mim. E para ser sincero, é tão bom de ouvir! Por muito que saibamos que alguém nos ama, é sempre bom ouvi-lo dizer!
Assusta-me contudo, outro lado desta questão: a forma leviana como se usam as palavras inadequadamente! Eu explico. Se se diz "Gosto de ti!" a um amigo ou amiga, é porque se gosta dele ou dela! Experimentem dizê-lo! terão as reacções menos esperadas e engraçadas até! Eu sei o que digo, acreditem! Se eu, homem, disser a um amigo "Gosto de ti!" ele olha-me de lado certamente pensando se eu estarei mesmo certo da minha orientação sexual. Se disser a uma amiga, ela provavelmente pensará que eu estou a querer qualquer coisa mais e a planear algum esquema de sedução. Mas não, simplesmente gosto, dele ou dela, é por esse facto que lhes chamo amigos e não apenas meros conhecidos ok? Mas, se por um lado não se diz gosto de ti por medo ou vergonha, assisto hoje, a uma juventude que diz a palavra "amo-te" a todo e qualquer um! As amigas dizem que se amam, amam-se todos uns aos outros, como se amar fosse gostar, como se o amor não fosse um muito maior gostar de ti. Afinal o que se passa com as palavras, com os sentimentos, com as pessoas?
Será que a lingua portuguesa além do novo acordo ortorgráfico aceitou um novo acordo semântico? Será que as pessoas não entendem o significado das palavras? Mas porque é que têem vergonha de dizer "gosto de ti" quando o devem dizer, e dizem "amo-te" de uma forma ridicula e banalizada que apenas quer dizer simplesmente um "gosto de ti".
Bons tempos em que as palavras eram o que eram e diziam apenas e tão simplesmente o que queriam dizer. Eu, pela minha parte, continuarei nesta cruzada de desmistificar o sentido das coisas, e direi sempre que o sentir, "gosto de ti" a quem gosto, e reservarei o "amo-te", para aqueles que realmente ocupam um lugar especial na minha existência.
Sabem que mais? Gosto de vocês, só por terem perdido um pouquinho do vosso tempo para ler esta minha reflexão de algibeira.

Não me sei....


Hoje, não me sei dizer.
Hoje, não me sei sonhar.
Não me sei prazer, escrever, reinventar!

Hoje, não me sei chorar.
Hoje, não me sei de mim.
Não me sei gritar, calar, ir até ao fim.

Hoje, não me sei se sou.
Hoje, não me sei em nada.
Não me sei se dou, se estou, em que estrada?

Hoje, não me sei inteiro.
Hoje, não me sei metade.
Não me sei Janeiro, Inverno, fim de tarde.

Hoje, não me sei saber.
Hoje, não me sei que fiz.
Não me sei se rio, se canto, se infeliz.

Hoje, não me sei quem sou.
Hoje, precisava tanto de mim.
E não sabendo, aqui estou, assim.