Novidade

Brevemente, além de leres poderás ouvir os meus poemas e prosas recitados por mim e com fundo musical.

sábado, 26 de novembro de 2022

ALMA MATER

 A minha alma já deixou de ser minha!

Já não a construo, não a defino, nem a sei desenhar!

Agora é ela, que como alma rainha,

me leva pela mão enquanto caminha,

Agora pertence ao tempo, pertence ao céu e ao mar!


A minha alma já deixou de ter segredos!

É como livro arquivado que nunca foi lido.

É como tela que se pinta com a tinta nos dedos,

Largando os sonhos, o amor, os receios e os medos,

num gesto que acalma o meu corpo ferido.


A minha alma já não tem morada certa!

Agora é nómada em constante peregrinação.

Vive pelas ruas de uma cidade deserta,

Espreita pelo mundo por uma janela aberta,

Velando a dor da Humanidade em desconstrução.


A minha alma já não tem rasgos de euforia!

Agora tem silêncios de um profundo pesar.

Veste-se de música,  das palavras de uma poesia,

nas cores que dançam numa tela branca em orgia,

e já nem me deixa dizer o que eu arrisco pensar.


A minha alma já não é a mesma de outrora!

Agora é um mar de sangue onde navego sem fim.

E eu sem alma, não sei meu tempo nem sei a hora,

Apenas espero na ansiedade em que vivo agora,

por esta Alma Mater, que se apoderou e me define a mim.



domingo, 13 de novembro de 2022

TEMPO VAGO

Há muito tempo, eu olhava para o tempo, e sorria

Porque o meu tempo era longo, distante, sem fim.

Tinha tempo para sonhar, acreditar, tudo me parecia,

A imensidão dum oceano e seu cheiro a maresia,

E sentia como se o mundo, fosse todo para mim.


Não olhava o relógio, que teimosamente não queria parar.

Nem contava as horas, os dias, nem os anos sequer.

Tinha tempo, e um montão de sonhos por realizar,

Tinha tempo, e tinha em mim a pressa de chegar,

como quem corre iludido para os braços duma mulher.


Tropecei no tempo, tantas vezes caí e outras tantas me levantei

Obstinado o meu desejo de atingir nem sei o quê.

Foi o tempo, que secou todas as lágrimas que chorei,

Foi o tempo, o confidente com que eu mais contei,

Mas foi o tempo, que me mostrou a realidade do que não se vê.


E só então, depois das desilusões e de tanto sofrer,

Comecei a olhar o tempo com admiração e respeito.

Ele tinha estado ali, constante no meu viver,

Tentou dar-me ensinamentos, dos quais nem quis saber,

E agora é a dor do tempo, que eu carrego no meu peito.


Sem dar por isso, os minutos, horas, dias e até os anos,

Escorreram como azeite, entre a pele envelhecida de meus dedos.

Agora nem sei se foi o tempo o culpado de todos os danos,

No meu ser feito de anseios, ilusões e desenganos,

Onde disfarcei angústias, os erros, e os meus medos.


Chegado aqui, vejo o tempo já tão curto, tão pequeno,

Que lhe rogo até em prece, que ande um pouco mais devagar.

É que eu agora só quero viver tranquilo e sereno,

Num clima de desejos e ambições mais ameno,

E até já perdi qualquer pressa inútil de chegar.


Agora o meu tempo, é o de tudo tentar entender

De um olhar para trás a questionar e vasculhar as verdades.

Olho pela janela, esperando se o tempo ainda vem para me ver,

Mas vejo apenas, como o tempo passou por mim a correr,

E agora em vez de sonhos, o meu tempo é de saudades.


Já nem sei se terei tempo, para ao tempo me desculpar,

O meu tempo já é só o hoje, por onde vivo e louco divago.

Vivo agora cada segundo tentando me perdoar,

Mas já pouco importa, pois no pouco tempo que me sobrar,

já saberei entender, que o tempo é fugaz, que o tempo é vago.


terça-feira, 5 de janeiro de 2021

DOM JULIÃO, O AVARENTO

Lá longe, por entre vales e montes,
chegava-se à Herdade das Fontes,
de um tal Dom Julião.
Diziam que ele era importante,
vivia num palácio brilhante,
com um imponente portão.

Diz quem em tempos o conheceu
que sempre sózinho ali viveu,
nunca quis mulher nem filhos.
Lá perto, pelas ruas da aldeia,
sempre se falou à boca cheia,
que era um homem de sarilhos.

Consta, para se dizer a verdade,
que ele herdou aquela herdade,
duma tia velhota que já morreu.
Foi pra lá ainda muito novo,
nunca se misturou com o povo,
e poucas vezes ele apareceu.

Dizem que quando ele lá chegou
um novo negócio inventou,
sem quase nada gastar.
Mas depressa ele fez milhões
com garrafas e garrafões,
e água das fontes para engarrafar.

Tinha tudo, dinheiro  a rodos
mas sempre discutia com todos
os empregados, mais de cem.
Nunca emprestou um tostão,
nunca deu sequer um pão,
nem um copo de água a ninguém.

Estava sempre a resmungar
na ânsia de querer mais poupar
para juntar ao que amealhou.
Mas um dia, as fontes secaram,
logo todos o abandonaram,
nunca mais alguém lá voltou.

Agora que já está velho e doente,
vai pedindo a toda a gente,
se alguém dele pode cuidar.
Tem dinheiro, mas resmungão,
falta-lhe a boa educação,
ninguém o quer aturar.

Apesar do dinheiro que ganhou,
nem nunca um carro comprou,
anda montado num jumento.
Por isso o povo diz com graça,
quando o vê passar na praça,
Lá vai Dom Julião, o avarento.





segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

A RITA VAIDOSA

A Rita, era tão bonita,

punha no cabelo uma fita,

vestia um vestido rodado,

bem bonito, encarnado.

E num jeito bem airoso,

punha um perfume cheiroso,

apenas para ir brincar.

Ninguém lhe podia tocar!

Não a fossem amarrotar,

Nem um casaco vestiu,

para o vestido mostrar...

Preferia passar frio,

andava a tiritar.

Estava constantemente,

a arranjar o cabelo...

A Rita tinha a mania,

de que ía ser modelo,

ser famosa, manequim,

E andava pelo jardim

como se fosse a desfilar.

Mas as amigas estavam fartas,

e não queriam mais brincar.

Já não tinham paciência

para a ouvir falar.

Mas a Rita, tão bonita,

ajeitava  a sua fita

sacudia os  cabelos no ar.

Mas o problema da Rita,

por saber que era bonita,

não se preocupava em estudar.

E assim a Rita cresceu

nada de jeito aprendeu

e nem se conseguiu formar.

Vivia só de vaidade,

e naquela ansiedade,

de ser capa de revista.

Mas o tempo foi passando,

E a Rita ficou chorando,

por não ter qualquer conquista.

Um dia por acaso encontrou,

as amigas com que brincou,

e com as quais ela gozava.

A Lorena era já doutora,

e a Inês uma senhora,

que numa empresa mandava.

Gostavam de viajar,

conhecer outros países,

eram mulheres felizes,

Com vidas bem interessantes.

Já a Rita, vivia aflita,

continuava a usar a fita,

Mas não era bonita como antes.

Pois de nada lhe serviu,

viver apenas prá vaidade.

O futuro, foi aquilo que se viu

a beleza com os anos partiu,

e ficou a realidade.


sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

A CAIXA DE LÁPIS DE CÔR

Numa caixa de cartão colorida,

Em manchas de aguarela.

Vinte e quatro lápis davam vida,

a uma bonita janela.


Viviam ali tão encostadinhos,

muito quietinhos sossegados.

Sempre bem arrumadinhos

e pelas cores ordenados.


Esperavam ansiosamente

para fora da caixa saltar.

Para quando alguém finalmente

precisasse deles pra pintar.


Por vezes enquanto esperavam

longas conversas mantinham.

Sobre as cores com que pintavam,

e as qualidades que tinham.


O verde, com certas manias,

disse sem qualquer subtileza:

-Sou a cor das pradarias,

e da flora, da natureza.


O amarelo já irritado,

não conseguiu aguentar.

-O que seria de ti verde coitado,

sem o meu sol a brilhar.


O castanho, num tom pomposo,

rapidamente respondeu:

- Eu sou a terra e um tronco grosso,

onde toda a vida nasceu.


Não és assim tão importante!

Disse o azul sem hesitar.

Eu vou muito mais distante,

pois sou o céu e o mar.


O vermelho disse com fervor:

-Dividam lá isso a meias.

Pois sou a cor do amor,

e do sangue que corre nas veias.


O laranja, mais pedagogo,

disse ao vermelho, encarnado.

Como serias tu cor do fogo,

sem laranja misturado.


O Rosa em jeito de vaidade,

educadamente disse assim:

Sou a cor da felicidade,

nas flores de um jardim.


Mas o branco, que até então,

Só tinha ouvido, calado.

- Eu sou a cor da razão,

sou o branco imaculado.


Logo o preto não gostou,

e disse no seu sábio dizer:

-Só graças ao contraste que dou,

alguém em ti pode ler.


O cinzento não se conteve,

deu uma gargalhada e depois:

- Que graça que cada um teve,

Eu sou a mistura do dois.


O roxo, que era baixinho,

disse um pouco envergonhado:

-Sei que sou pequenininho,

mas porque fui mais usado.


O verde claro, gaguejando,

disse sincopando os sons:

-Eu-eu-eu que-que-ria ver-ver-vos pin-pin-tando

sem-sem ha-haver os Mei-meios tons.


Depois de alguns dissabores

de conversas de rivais.

Perceberam então as cores

que diferentes, são iguais.


Como seria o mundo todo escuro,

Como seria o planeta todo claro.

Com cores se pinta o futuro,

num abraço de sonho e amparo.


Seja grande, seja pequeno,

Com diferenças, como a gaguez.

Só juntos num mundo sereno,

se pinta tudo aquilo que vês.


Porque nada importa o que temos

nem a diferença ou a cor.

Mas todos juntos valemos,

um mundo pintado de amor.



POEMA INCOMPLETO

Tentei escrever um poema

com mil frases infinitas

mas fiquei com um problema

não tinha palavras ------------


Eu bem teimava e tentava,

e tantos versos escrevia.

Mas sempre uma palavra faltava

para me encher de -----------


O poema estava tão triste,

dizendo que assim não se anima.

Porque um poema existe,

na palavra que faz a ---------


Não se sentia bela poesia,

nem poderia vir a ser canção

Pois tudo aquilo que dizia

não chegava ao -----------


Foi então que me lembrei

com crianças que ali estavam

que elas me ajudassem também

nas palavras que ------------


Haviam tantos dedos no ar,

todos queriam dar sugestões.

Com palavras que a rimar,

fizessem belas -----------


Depois de algum tempo passado,

todos juntos a escrever

O poema inacabado

já se fazia ---------------


Agora o poema incompleto

consegue dizer o que diz.

Com mais palavras, completo,

é um poema ------------

quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

O Cão Pimpão

Pimpão era um cão,

alegre e brincalhão,

Mas era tão comilão,

comia quilos de ração,

e comia sem razão,

tudo o que via no chão,

até um brinquedo avião,

e o sapato do João,

Comia com sofreguidão,

que metia confusão.

Comeu um queijo castelão,

Comeu feijoada com grão,

Comeu bolos e comeu pão,

e até sem explicação

tentou comer a televisão.

De tanto comer nessa aflição,

estava redondo como um balão.

Rebolava pelo chão,

de tão má disposição,

de tanto comer pois então.

Tinha problemas de coração,

e diabetes de cão,

Ai Pimpão, ai Pimpão,

tu tens de ter atenção.

Mas ele dizia que não,

não havia preocupação.

Até que um dia o João,

foi encontrar o Pimpão,

quase morto no chão,

quase sem respiração,

E chorando o João,

naquela grande aflição

para salvar o Pimpão

com o telefone na mão

Ligou pró doutor Salvação,

que chegou de foguetão,

e lhe fez reanimação.

deu-lhe logo uma injecção,

deu-lhe soro mesmo pra cão.

Passou-lhe receitação,

para nova alimentação,

e uma dieta de ração.

Ralhando disse ao Pimpão,

Olha lá bem pró João,

a chorar numa aflição.

Tu tens de ter atenção

comer com moderação,

É até falta de educação,

comeres que nem um leão,

Tem cuidado senão

morres com gula de cão.