Novidade

Brevemente, além de leres poderás ouvir os meus poemas e prosas recitados por mim e com fundo musical.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

COISAS DA INVEJA

O pobre do velho sapo,
que já dizia coisas sem nexo
Andava feito num farrapo,
por se achar um velho trapo,
ao ver na água seu reflexo.

Falava com inveja e desdém
Do seu vizinho camaleão.
Pelas qualidades que tem,
Subir árvores como ninguém,
e mudar de cor, pois então.

Mas o camaleão coitado,
Deixava o sapo falar.
Andava sempre angustiado,
nas árvores empoleirado,
porque não sabia nadar.

Ficava ainda mais invejoso,
ao ver o colibri voar.
E ele ali, vagaroso,
aguardando atento pelo almoço,
sem o poder ir buscar.

O colibri exibicionista,
Pairava sobre uma flor.
Armado em malabarista,
como se fosse um artista,
voando em seu redor.

Ele disfarçava o seu medo,
da sua pequenez fatal.
E admirava em segredo,
Lá no alto dum penedo,
o voo da águia real.

A àguia em voos rasantes,
e quase sempre certeiros,
Caçava pobres rastejantes,
com inveja dos elefantes,
serem tão bons companheiros.

Andavam sempre em manada,
em familia, em protecção.
Enquanto que a àguia coitada,
lutava desesperada,
apenas para procriação.

Mal sabia ela que o elefante,
no seu lento e pesado andar.
Debaixo de um sol escaldante
chorava por não ser elegante,
e por não saber saltar.

Se fosse pelo menos como a hiena,
se pelo menos pudesse sorrir.
Talvez assim valesse a pena,
tão fastidiosa faiena,
e um tão penoso carpir.

Mas a hiena achava estranho,
o desejo do elefante.
Precisaria de menor empenho,
se tivesse aquele tamanho,
e seria mais importante.

O que ela na verdade queria,
era ser como o leão.
Ser o rei da pradaria,
respeitado de noite e dia,
numa imponente solidão.

Ah mas o rei tinha um problema,
um segredo bem guardado.
Vivia num grande dilema,
uma história, quase poema,
que a ninguém havia contado.

-Se eu pudesse seria serpente!
Dessas com veneno mortal.
Dizia o leão descontente,
porque ser rei de toda a gente,
não tem vantagens afinal.

A serpente quando o ouviu,
nem queria acreditar.
Ter de dormir meses a fio,
comer de verão, porque no frio,
nem sequer podia rastejar.

Antes fosse lagarta feia,
porque ser serpente é uma treta.
Porque a lagarta ao morrer,
ainda pode vir a ser,
uma linda borboleta.

A lagarta não achou graça,
Pensou que era piada.
Minha vida é uma desgraça,
e tão depressa a vida passa,
que eu nem sequer dou por nada.

Sei que morro em borboleta,
mas sou um pobre farrapo.
Tudo em mim se espeta,
minha vida é uma treta,
quem me dera ser um sapo.

E para ter final a jeito
fica então a moral da história,
Não há nenhum ser perfeito,
Mas cada um no seu jeito,
deixa no mundo sua glória.




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