Novidade

Brevemente, além de leres poderás ouvir os meus poemas e prosas recitados por mim e com fundo musical.

domingo, 11 de outubro de 2020

Não me perguntes quem sou...

Não me perguntes quem sou!

Não to saberei dizer.

Talvez pedaços soltos de mim,

Como um puzzle que não tem fim,

num constante refazer.

Sou como pedra de calçada 

que farta de ser pisada

já está gasta e polida...

Sou como a velha canção 

da qual só lembram o refrão 

já sem essência de vida.


Não me perguntes quem sou!

Não to saberei explicar.

Talvez seja um pedaço de terra

Uma árvore no meio da serra,

Uma onda à beira mar...

Não sou quem vês à tua frente,

Já não sonho como antigamente,

Nos braços da ingenuidade...

Sou agora desgosto contido

Sou como um lobo ferido,

Na percepção da realidade.


Não me perguntes quem sou!

Não to saberei exprimir.

Sou como um Deus sem dom,

Sou como sorriso sem som,

Sou flor que não pode florir...

Não sou aquele que vejo ao espelho

Que bem mais cansado e velho,

Os anos de rugas pintou...

Sou eterno poeta delirante,

Sou jovem crente e amante,

Que a vida castigou.


Não me perguntes quem sou!

Não posso nem saberei responder.

Quem sabe eu seja um louco,

Que de tanto viveu tão pouco,

do que realmente queria viver...

Sou o espanto do que vou ouvindo,

Do que vou vendo e vou sentindo,

Nesta sociedade tão perdida...

Sou por isso um angustiado,

por ver o mundo dominado,

pela falta de valores de vida.


Não me perguntes quem sou!

Não quero falar mais de mim.

Como queres que mais eu diga,

Quando é tão grande a fadiga,

ao aproximar-me do fim...

Sou o resto dos tantos quase

Sou o rosto de tanta fase,

do feito e do que não fiz...

Sou o fruto do meu passado,

Sou finalmente amado,

e só isso me faz feliz.


Não me perguntes quem sou!

Não creio que vás entender.

Sou um guerreiro do azar sem sorte,

Que vendo chegar a morte,

quer ainda mais viver...

Sou a calmia dos ventos,

Sou a inquietação dos pensamentos,

Que não me deixa descansar...

Sou um apreciador dos momentos,

Que efémeros e lentos,

Me fazem ainda sonhar.


Não me perguntes quem sou!

Não te interessa quem eu seja.

Sou da tristeza um poeta,

Da felicidade um profeta,

Do abraço , quem deseja.

Sou um todo um quase nada,

Já perto do fim da estrada,

E não sei para onde vou...

Quando olho agora para trás 

Só quero seguir em paz

Sem nunca saber quem eu sou.


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