Novidade

Brevemente, além de leres poderás ouvir os meus poemas e prosas recitados por mim e com fundo musical.

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Fogo Frio


Outrora, quando o sol brilhava no horizonte,
haviam de ver como eu sorria...
o quanto eu sonhava,
o quanto eu queria...
Nesse tempo dourado em que havia tempo
para esperar pelo tempo,
e a esperança era algo permanente, subtil e quente...
Os braços abriam-se como rios abraçando o mar,
querendo alcançar a luz das estrelas e o luar,
os olhos riam das lágrimas esquecidas,
as mãos saravam a dor das feridas,
que nem se deixavam ver.
Outrora, noutro meu ser de além,
noutro querer que vivi,
em que lutei,
e acreditei,
derrubei mundos criei utopias,
renascendo das minhas fantasias,
e confessei-me eterno pecador,
só por querer amor...
só por querer paz...
por querer as coisas simples,
as mais simples que a vida nos traz!
Mas de outrora, nada tenho agora,
e pouco sobra de mim...
Lágrimas contidas que nem consigo chorar,
Palavras consentidas que tenho de calar,
e não me sei encontrar!
Encurtou-se a distância que me separa do fim,
e vejo agora que passado o tempo,
já não fica muito tempo, do tempo que sobra para mim.
Ficam os sonhos, tantos por sonhar...
Ficam os risos, tantos por sorrir...
Ficam os restos de um homem
que não soube construir.
Ficam também as palavras,
aquelas que já nem sei dizer,
escritas a medo e em segredo
quando me encontro e falo comigo.
Como se eu me fosse,
o meu único e maior amigo.
Agora, o outrora não importa...
É o amanhã que está à minha porta
e eu não sei deixá-lo entrar.
Agora, o outrora é quimera,
é como chuva de primavera
e eu já nem me posso molhar.
Fica de mim a semente,
este viver de chama quente,
esta marca de sangue ardente,
como quem vive e não sente
como quem viveu e nada sentiu...
E só sobra então de meu corpo
pedaços incandescentes
destas cinzas de fogo frio.

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