chegava-se à Herdade das Fontes,
de um tal Dom Julião.
Diziam que ele era importante,
vivia num palácio brilhante,
com um imponente portão.
Diz quem em tempos o conheceu
que sempre sózinho ali viveu,
nunca quis mulher nem filhos.
Lá perto, pelas ruas da aldeia,
sempre se falou à boca cheia,
que era um homem de sarilhos.
Consta, para se dizer a verdade,
que ele herdou aquela herdade,
duma tia velhota que já morreu.
Foi pra lá ainda muito novo,
nunca se misturou com o povo,
e poucas vezes ele apareceu.
Dizem que quando ele lá chegou
um novo negócio inventou,
sem quase nada gastar.
Mas depressa ele fez milhões
com garrafas e garrafões,
e água das fontes para engarrafar.
Tinha tudo, dinheiro a rodos
mas sempre discutia com todos
os empregados, mais de cem.
Nunca emprestou um tostão,
nunca deu sequer um pão,
nem um copo de água a ninguém.
Estava sempre a resmungar
na ânsia de querer mais poupar
para juntar ao que amealhou.
Mas um dia, as fontes secaram,
logo todos o abandonaram,
nunca mais alguém lá voltou.
Agora que já está velho e doente,
vai pedindo a toda a gente,
se alguém dele pode cuidar.
Tem dinheiro, mas resmungão,
falta-lhe a boa educação,
ninguém o quer aturar.
Apesar do dinheiro que ganhou,
nem nunca um carro comprou,
anda montado num jumento.
Por isso o povo diz com graça,
quando o vê passar na praça,
Lá vai Dom Julião, o avarento.
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