Há muito tempo, eu olhava para o tempo, e sorria
Porque o meu tempo era longo, distante, sem fim.
Tinha tempo para sonhar, acreditar, tudo me parecia,
A imensidão dum oceano e seu cheiro a maresia,
E sentia como se o mundo, fosse todo para mim.
Não olhava o relógio, que teimosamente não queria parar.
Nem contava as horas, os dias, nem os anos sequer.
Tinha tempo, e um montão de sonhos por realizar,
Tinha tempo, e tinha em mim a pressa de chegar,
como quem corre iludido para os braços duma mulher.
Tropecei no tempo, tantas vezes caí e outras tantas me levantei
Obstinado o meu desejo de atingir nem sei o quê.
Foi o tempo, que secou todas as lágrimas que chorei,
Foi o tempo, o confidente com que eu mais contei,
Mas foi o tempo, que me mostrou a realidade do que não se vê.
E só então, depois das desilusões e de tanto sofrer,
Comecei a olhar o tempo com admiração e respeito.
Ele tinha estado ali, constante no meu viver,
Tentou dar-me ensinamentos, dos quais nem quis saber,
E agora é a dor do tempo, que eu carrego no meu peito.
Sem dar por isso, os minutos, horas, dias e até os anos,
Escorreram como azeite, entre a pele envelhecida de meus dedos.
Agora nem sei se foi o tempo o culpado de todos os danos,
No meu ser feito de anseios, ilusões e desenganos,
Onde disfarcei angústias, os erros, e os meus medos.
Chegado aqui, vejo o tempo já tão curto, tão pequeno,
Que lhe rogo até em prece, que ande um pouco mais devagar.
É que eu agora só quero viver tranquilo e sereno,
Num clima de desejos e ambições mais ameno,
E até já perdi qualquer pressa inútil de chegar.
Agora o meu tempo, é o de tudo tentar entender
De um olhar para trás a questionar e vasculhar as verdades.
Olho pela janela, esperando se o tempo ainda vem para me ver,
Mas vejo apenas, como o tempo passou por mim a correr,
E agora em vez de sonhos, o meu tempo é de saudades.
Já nem sei se terei tempo, para ao tempo me desculpar,
O meu tempo já é só o hoje, por onde vivo e louco divago.
Vivo agora cada segundo tentando me perdoar,
Mas já pouco importa, pois no pouco tempo que me sobrar,
já saberei entender, que o tempo é fugaz, que o tempo é vago.
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