A minha alma já deixou de ser minha!
Já não a construo, não a defino, nem a sei desenhar!
Agora é ela, que como alma rainha,
me leva pela mão enquanto caminha,
Agora pertence ao tempo, pertence ao céu e ao mar!
A minha alma já deixou de ter segredos!
É como livro arquivado que nunca foi lido.
É como tela que se pinta com a tinta nos dedos,
Largando os sonhos, o amor, os receios e os medos,
num gesto que acalma o meu corpo ferido.
A minha alma já não tem morada certa!
Agora é nómada em constante peregrinação.
Vive pelas ruas de uma cidade deserta,
Espreita pelo mundo por uma janela aberta,
Velando a dor da Humanidade em desconstrução.
A minha alma já não tem rasgos de euforia!
Agora tem silêncios de um profundo pesar.
Veste-se de música, das palavras de uma poesia,
nas cores que dançam numa tela branca em orgia,
e já nem me deixa dizer o que eu arrisco pensar.
A minha alma já não é a mesma de outrora!
Agora é um mar de sangue onde navego sem fim.
E eu sem alma, não sei meu tempo nem sei a hora,
Apenas espero na ansiedade em que vivo agora,
por esta Alma Mater, que se apoderou e me define a mim.